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São João Batista,31/01/2025

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Copom: entenda os efeitos do ‘choque de juros’ no crédito e na vida do consumidor

g1.globo.com
Copom: entenda os efeitos do ‘choque de juros’ no crédito e na vida do consumidor


Banco Central aumentou a taxa básica de juros pela quarta vez seguida nesta quarta-feira (29), para 13,25% ao ano. Selic mais alta tem efeitos para a economia e para seu bolso. Copom mantém alta acelerada e taxa Selic vai a 13,25%
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que a inflação persistente e a incerteza com as contas públicas são os principais fatores internos que continuam a pressionar o Banco Central (BC) a manter a taxa básica de juros em trajetória de alta, o que encarece o dia a dia dos consumidores brasileiros.
O Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu a promessa feita em sua última reunião de 2024 e voltou a elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (29), para 13,25% ao ano.
A instituição indicou que a média dos preços deve continuar acima da meta de inflação de 3% neste e nos próximos anos. De acordo com as últimas divulgações do IPCA, a inflação oficial tem sido impulsionada principalmente pelo alto preço dos alimentos e dos combustíveis.
Um elemento extra de incerteza é a chegada de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Com políticas protecionistas, que também prejudicam a inflação americana, espera-se que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tenha dificuldade de baixar os juros por lá.
Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos, atraindo investidores estrangeiros e fortalecendo a moeda americana. Um dólar mais forte prejudica o câmbio e pressiona a inflação no Brasil.
O Fed, por sua vez, também realizou sua primeira decisão de juros da era Trump nesta quarta-feira, e resolveu interromper uma sequência de três quedas, mantendo as taxas na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
A instituição reafirmou que a perspectiva econômica é "incerta", que está atenta aos riscos econômicos e que está "preparada para ajustar" sua postura na condução dos juros.
Essa conjunção de eventos faz com que economistas do mercado prevejam uma forte puxada na taxa básica da economia nos próximos meses, e que o juro atinja 15% ao ano em junho de 2025, maior patamar desde 2006. Além de frear a economia como um todo, taxas mais altas encarecem financiamentos.
Entenda abaixo os efeitos dessa encruzilhada no bolso dos brasileiros.
Por que os juros subiram tanto?
Como os juros afetam o dia a dia do brasileiro?
O que precisa acontecer para os juros voltarem a cair?
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Adriano Machado/Reuters
Por que os juros subiram tanto?
Um dos principais pontos levantados tanto pelo BC brasileiro quanto pelo Fed é a dúvida sobre a continuidade da pressão inflacionária nas economias de ambos os países.
“Há uma série de incertezas olhando à frente. A primeira é a taxa de câmbio, que é uma das variáveis-chave para o comportamento da inflação. E a segunda é o comportamento da atividade econômica”, explica o estrategista-chefe da Warren Rena, Sergio Goldenstein.
Nos EUA, apesar de sinais de desaceleração econômica, ainda há dúvidas sobre a intensidade dos efeitos da agenda protecionista de Trump. Medidas econômicas, como a criação de tarifas para produtos importados e a deportação de estrangeiros, têm caráter inflacionário e devem causar impactos nos preços ao consumidor.
Em seu comunicado, o Fed indicou que seu balanço de riscos está mais equilibrado nos últimos meses, mas a instituição deve ser mais cautelosa com novos cortes de juros até que se tenha mais clareza de que não perderá o controle da inflação.
"O comunicado [...] deixou claro que o comitê seguirá firme na missão de levar a inflação ao centro da meta, monitorando indicadores estritamente ligados ao ambiente macroeconômico [...] e excluindo qualquer possibilidade de que fatores políticos adentrassem a agenda da instituição", afirma o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, em nota.
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No Brasil, há uma soma de fatores. O primeiro é o mercado de trabalho, que continua aquecido e nos menores patamares da história. Quando a renda do trabalhador sobe sem aumento de produção na economia, a inflação pode sofrer pressão e escapar para ainda mais longe da meta.
Soma-se a isso a incerteza do mercado com as contas públicas brasileiras. Como o governo federal não demonstrou medidas eficazes para conter o endividamento público, o investidor entende que aplicar o dinheiro por aqui fica mais arriscado.
Em comunicado divulgado após a decisão, o Copom afirmou que segue "acompanhando com atenção" os desenvolvimentos da política fiscal e seus impactos na política monetária e nos ativos financeiros.
"A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", disse.
Em um contexto em que investimentos seguros estão com boa rentabilidade, o país se torna menos atrativo. Quando esses recursos são direcionados para fora, o real se desvaloriza e se torna mais um peso na inflação.
Por isso, as expectativas do mercado são de inflação e juros mais altos. No último boletim Focus, que reúne projeções de mais de 100 instituições financeiras, houve uma guinada para cima nas projeções: espera-se que o IPCA chegue a 5,50%, enquanto a Selic vá a 15% ao ano.
Ainda segundo o comunicado, o Copom também disse que as expectativas para a inflação apuradas pelo Focus "elevaram-se de forma relevante", destacando que os riscos de alta dos preços continuam a prevalecer no balanço de riscos.
"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista", ponderou o colegiado.
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Como os juros afetam o dia a dia do brasileiro?
O principal efeito dos juros na vida do consumidor ocorre no crédito. Primeiro, porque os bancos acompanham a alta da Selic e repassam esse custo aos consumidores, encarecendo empréstimos e financiamentos.
Em segundo lugar, há um menor volume de crédito disponível no mercado. Com as incertezas e sinais de desaceleração da atividade econômica, além da alta das expectativas de inflação, os bancos ficam menos propensos a emprestar.
Esse cenário também afeta aqueles que já têm créditos contratados com juros pós-fixados, o que pode diminuir a capacidade de pagamento e aumentar a inadimplência.
Por fim, a alta dos juros também impacta o poder de compra das famílias, que, com menos recursos disponíveis, limitam seus gastos às contas básicas da casa e postergam a compra de bens.
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O que precisa acontecer para os juros voltarem a cair?
Segundo os especialistas consultados pelo g1, as expectativas de inflação precisam parar de piorar e, posteriormente, melhorar para que o Banco Central não precise prolongar o ciclo de altas da Selic.
“Apesar de ninguém vislumbrar ainda uma melhora tão cedo das expectativas de inflação, interromper a piora já vai ser um grande alento para o BC”, diz o economista do ASA, Leonardo Costa.
Além disso, a inflação precisa perder força nos próximos meses, mesmo que a atividade econômica tenha que desacelerar de forma significativa. “Provavelmente já devemos começar a ver alguma desaceleração dos indicadores, mas é preciso que venham mais fracos do que isso”, completa Costa.
Por fim, os especialistas destacam a necessidade de maior clareza sobre os impactos do governo Trump e das incertezas domésticas na taxa de câmbio.
“Para que a política monetária funcione, é importante que as políticas fiscal e parafiscal não atrapalhem”, afirma Goldenstein, reiterando que o BC não conseguirá, sozinho, reverter o cenário atual de pressão nos juros.
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